Monday, October 09, 2006

The Black Dahlia - A Dália Negra*

É facil perceber o porquê de James Ellroy (autor do romance The Black Dahlia) se ter colocado à margem da película de Brian de Palma. Quando James Ellroy exultou a qualidade da adaptação para cinema de L.A. Confidential (um dos melhores policiais da história do cinema, seguramente), colocou a origem dessa qualidade na correcta simplificação dos seus complexos enredos e na cuidadosa ritmica que Curtis Hanson encontrou para contar a história. Nesse aspecto, quer Brian Helgeland quer Curtis Hanson, foram mestres e o resultado verificou-se brilhante.
Brian de Palma, que nunca foi um grande argumentista, demonstra aqui, mais uma vez, que não o é. Faz escolhas erradas ao preferir uma complexidade na história em detrimento de uma maior complexidade nas personagens, escolha essa que Ellroy enalteceu em L.A. Confidential. Ao criar personagens superficiais, leva a que espectador, por e simplesmente, não se interesse pelo seu destino.Para perceber onde errou este filme, Brian de Palma apenas necessitará de procurar na sua cinemateca a obra-prima de Roman Polanski, Chinatown, um filme que acerta em tudo o que este errou.

A nível de casting, fabuloso em L.A. Confidential (foram aí descobertos os talentos de Russel Crowe e Guy Pearce, e uma Kim Basinger como nunca a tínhamos visto anteriormente), o erro é total em a Dália Negra. Nenhum dos protagonistas parece correr qualquer risco com a sua personagem ou pelos menos, disfarçar o hiato temporal entre a actualidade e o contexto do filme, passado nos anos 40. Também verdade seja feita, os actores não são responsáveis nem pelo casting, nem pelo argumento, duas peças fundamentais para que qualquer obra de cinema resulte.

Brian de Palma é, sem qualquer dúvida, um génio da realização e para quem esteja disposto a ver um filme apenas pela sua realização, decerto não sentirá que gastou mal o seu tempo. As "maravilhas", como os planos não-editados ou os slow-motions no momento exacto, estão lá. No entanto, se relembrarmos as melhoras obras de Brian de Palma, verificaremos que na retaguarda (ou não) dessas criações artísticas, estão alguns dos melhores argumentistas que já passaram por Hollywood: David Koepp ( em Snake Eyes, Missão Impossível e Carlito's Way), David Mamet (em Os Intocáveis) e Oliver Stone (em Scarface).

Como ponto positivo deste filme, temos a fabulosa banda sonora do mestre Mark Isham, um compositor minimalista que capta a essência e ritmo da história melhor do que ninguém. E neste caso, bastante melhor do que Brian de Palma.

Como conclusão, a Dália Negra de Brian de Palma peca pelo maior defeito que se pode praticar numa obra artística, a presunção. Presume-se complexo, não concretizando; presume-se sentimental, não aprofundando e finalmente; presume-se violento, não fundamentando. É, em suma, um produto pobre num invólucro rico.

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